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Mostrando postagens de julho, 2021

E o vento

 No pensamento, meus azuis verdejantes e as águas paradas, levemente acariciadas pelo vento que me traz sussurros quase inaudíveis. 

Sábado

 Indiferente ao sábado. Contudo, há festas pelo ar, expectativas, novidades. Então, sejam flores, amarelas, aliviando o fundo cinzento e frio. 

Os salvados

 Penso sempre nos desacertos que cometi: quem sabe? Única explicação que encontro para continuar insistindo nesses enigmas, nelas janelas e gavetas. Talvez porque haja ainda o que descobrir além de nossa morada e o que recolher e engavetar: os salvados à matéria vital.

Inútil espera

O cotidiano não pode ser elaborado. Ele é simples, seja quando tem pressa, seja quando se espreguiça.  Se algo acontece, está além da janela, como a luz, como o vento, como os verdes e os azuis; do lado de dentro, a inútil espera: não vais voltar.  

Vermelhas

 Para que tenhas um dia melhor, caso apareças por aqui. Não precisas dizer nada. E podes colher essas flores vermelhas, que são eternas como a luz que as capturou. 

Sim

 Torres, sim. Longe da terra, mas perto do céu: abstração, meu pensamento, teu passamento. Saudade.

Gravidez

Quando se concebe no espírito, engravida-se de novas ideias...

Simples assim.

 Porque colorir é divertido.

Aves-do-paraíso

 Ao ouvir pela primeira vez que existia um pássaro chamado ave-do-paraíso, eu quis saber como ele era. Achei a imagem e confesso que esperava mais  de um bicho que, afinal de contas, morava no Paraíso, lugar para onde iriam as pessoas boas, ou seja, gente que não pecava. Depois soube, por meu avô Paschoal, que era só o nome da ave que falava em Paraíso, e que isso não significava tratar-se de um ser sobrenatural, que habitava em lugar também sobrenatural. Tive, então, graças ao nome de uma ave e graças ao meu avô Paschoal, uma iniciação verdadeiramente metafísica, respeitadas as devidas proporções. Compreendi, enfim, perfeitamente bem, que o Paraíso era quase a mesma coisa que o tal faz de conta, coisa que estava ao meu alcance fazer acontecer. Compreendi também que, se havia ou não aves no Paraíso, só depois de chegar lá seria possível saber.  Hoje penso que meu avô já sabe como são as aves que existem no Paraíso, pois, naturalmente, é lá que ele deve estar. Eu, to...

Presença

Um não querer que sucumbe à aceitação. Como vida que segue, como dias que passam, mas que, mesmo assim, se fazem aqui presentes, floridos. 

Alegria

Eram doze. Ergueram-se vaidosas buscando os céus, por um instante esquecidas de sua fragilidade. E eis que dessa combinação de fraqueza e pretensão nasceu-lhes a alegria.

De florais e poesias

 E foi assim que eu desordenei o sentido das linhas, para que o fundo não pudesse influir muito na forma. Mas não é o caso. O desenho é sempre o que é, nunca o que seria. No caso, o que me parece importante é que a forma se faz sustentar pelo reflexo, e gosto disso, porque assim se praticam os impossíveis. De resto, meus azuis plenos entre roxos e lilases, ligeiramente rosados, discretamente dourados. Concluído o desenho, tornado luz agora, penso que se o tivesses visto talvez não te agradasse. Nunca soube bem o que preferias e, no fundo, imagino que,  não apreciando poesia, talvez não tivesses também gosto pelos florais. Não sei. Nunca soube e, agora, nunca saberei.

Sutilezas

A santidade nunca é tão sutil quanto o pecado pode ser às vezes.

Exagerei

 É bom colorir. Um pouco mais aqui, um pouco mais ali e pronto! Mais uma vez eu exagerei.

Hibisco

 Havia tantos nos jardins da minha infância. Encantavam-me com seu colorido, mas estranhava que, tão belas flores não tivessem  perfume. Eram flores bonitas mas rebeldes., porque não serviam para enfeitar vasos de flores. Uma vez colhidos, murchavam, tristemente, faziam-se feios, enrugados, escuros. Eu os cozinhava em latas de compota de pêssegos, e extraia um suco roxo, denso, que misturava com água e virava tinta. Brincava assim com essas flores que chamava de Mimos de Vênus,  coisa que se ouvia como se fosse Mimos de Vento, mas que pessoas cultas chamavam pelo nome certo: hibiscos. 

Repentinamente o vento

 Repentinamente o vento abre uma janela na parede, ergue cortinas e quase abre minhas gavetas.

Será?

 Sem precisão. Se é que você me entende.

Desiguais

 Vida e morte, cada uma com a estética que lhe é própria, inerente a cada desigualdade.

Nunca mais outra vez

Pensei comigo, enquanto o lápis corria pelo papel, que estavas bem ali, a olhar as cores, os claros, os escuros, tudo enfim. Cheguei a sentir teu olhar, tua presença, e fiz de conta que sim, que ali estavas, do meu lado, quieto, mas atento, como sempre. Mas logo depois me dei conta de que não era mais sempre, porque é nunca: nunca mais outra vez.  

Por hoje

  No desacerto das cores e na fragilidade do papel, as marcações imprevistas. Seja, todavia, a ideia a prevalecer sobre a forma, desastrada e primária. Que as águas sejam profundas, e que os verdes tenham raízes, em que pese flutuarem sob a luz incerta que precede o anoitecer.