Ao ouvir pela primeira vez que existia um pássaro chamado ave-do-paraíso, eu quis saber como ele era. Achei a imagem e confesso que esperava mais de um bicho que, afinal de contas, morava no Paraíso, lugar para onde iriam as pessoas boas, ou seja, gente que não pecava. Depois soube, por meu avô Paschoal, que era só o nome da ave que falava em Paraíso, e que isso não significava tratar-se de um ser sobrenatural, que habitava em lugar também sobrenatural. Tive, então, graças ao nome de uma ave e graças ao meu avô Paschoal, uma iniciação verdadeiramente metafísica, respeitadas as devidas proporções. Compreendi, enfim, perfeitamente bem, que o Paraíso era quase a mesma coisa que o tal faz de conta, coisa que estava ao meu alcance fazer acontecer. Compreendi também que, se havia ou não aves no Paraíso, só depois de chegar lá seria possível saber. Hoje penso que meu avô já sabe como são as aves que existem no Paraíso, pois, naturalmente, é lá que ele deve estar. Eu, todavia, não obstante tão longe e de mim distante reste o Paraíso celeste, ainda posso fazer de conta, posso fabricar o meu próprio Paraíso e até inventar as aves que nele habitam.
Os castelos confundiram-se. Não sabem mais o que fazer com a nova ordem das coisas. Porque não fica nada bem para uma coisa servir de abrigo para príncipes, para princesas, para sonhos ou devaneios. Daí entortaram-se. Verdade que os relógios de alguns passaram a andar para trás. Porém, eu soube que foi inútil. Tudo inútil.

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