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Mostrando postagens de dezembro 27, 2020

Estranho oráculo

Janelas abertas para um céu aos pedaços, gavetas fechadas que parecem abertas, cortinados indecisos que cobrem e descobrem. Coisas que, estou certa, já habitavam esses papéis que, para mim, jamais estão em branco. Minha sina é essa impositiva tarefa de revelar coisas que estavam todas escondidas no nada. Meio culposamente, sempre apressada, em luta com a negligência do desenho, com a imperícia  dos traçados a pincel, com a imprudência de trazer à tona segredos talvez. Obsessiva ocupação que me toma as mãos e a mente. Depois me pergunto se não faço do papel um estranho oráculo, ao qual consulto para saber de ti, habitando agora o infinito nada. Obsessiva ocupação para reinventar, todos os dias, a tua morte. Porque dela é a culpa de todas as coisas restarem assim tão confusas e inexplicadas. Mistério. 

Humanidades à parte

 Quando tudo acontece furiosamente, o que está na frente é ultrapassado pelo que está atrás. Como na vida, quando o passado atropela o futuro. Nossa existência é pensada no tempo e no espaço. Tributários dessa prisão dimensional, nosso horizonte é o de uma consciência de si, que a memória ora atormenta, ora ameniza, e que a morte ora consola, ora aterroriza. Humanidades à parte, não admira termos criado tantos deuses e tantos heróis.