Existe algo de sinistro em alguns lugares. Diria que também há algo de sinistro em certas combinações de cores, como, nas melodias, naquelas de certos tons menores que parecem chorar. O sinistro , por sua vez, tomado com o substantivo, poderia bem ser uma categoria, — um lugar, quem sabe —, ultrapassando a função acessória que lhe é assinada como simples adjetivo. Afinal, às vezes é preciso extrair de uma palavra tudo o que ela tem a oferecer. Olho para essa imagem e imagino que atrás dessas montanhas negras está Nunca Mais, a cidade para onde partiste. São montanhas de ferro, imensas, que não se deixam tocar nem em tempos de frio nem de calor. E lá sempre faz muito frio ou muito calor. As águas são profundas e venenosas, para que nada nelas tenha vida. Não são águas mães, mas águas madrastas, águas que abortam em lugar de gerar. O céu, por sua vez, tem fim. Ele não permite que se voe nele, e possui nuvens de cantos quadrados, para machucar quem que...
Cores, riscos e palavras.