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Mostrando postagens de dezembro 13, 2020

Questões de gênero

Dificilmente resisto às cores frias. Gosto muito de azuis. Sinalizam que está tudo bem. Um pouquinho de azul que seja, uma pincelada, mesmo escondida, um canto de céu, uma janela aberta, a fresta de uma porta. Os azuis garantem a discrição, o contexto, o sentido: respeitosamente. Mas desta vez só vi vermelhos: escandalosos, alaranjados, indiscretos, promiscuamente mesclados a amarelos. Flores descabeladas, indecorosas e com espinhos. Enfim, flores mulheres, tais e quais elas ficam quando não se coloca ao menos um pouco de azul no fundo, outro tanto nas pétalas, toques discretos ao longo dos caules, tudo como garantia de sua elegância e, é claro, de sua respeitabilidade.

Que flores são essas?

São as que saíram da ponta do meu pincel. 

Quem sabe

Gavetas transformam banalidades em grandes segredos. Pairam mistérios sobre tudo o que elas escondem.  Por isso amo tanto gavetas. Nelas podemos guardar nossos nadas e nossos espaços vazios: imensos, escuros, onde não chega nem o azul da janela nem a alegria das flores. Pura saudade. Mas as flores estão ali. O cortinado, aberto. A janela também. Porque,  —  quem sabe  — , por ali, junto com o azul, pode entrar o teu olhar.